OS GRIOT'S

Você sabe o que é griot?
É como são chamados na África, os contadores de histórias. Eles são considerados sábios muito importantes e respeitados na comunidade onde vivem. Através de suas narrativas, eles passam de geração a geração as tradições de seus povos. Nas aldeias africanas era de costume sentar-se à sombra das árvores ou em volta de uma fogueira para ali passar horas e horas a fio ouvindo histórias do fantástico mundo africano transmitidas por "este velhos griôts”.

1) Definição

Termo do vocabulário franco-africano criado na época colonial para designar o narrador, cantor, cronista e genealogista que, pela tradição oral, transmite a história de personagens e famílias importantes para as quais, em geral, está a serviço. Presente, sobretudo na África ocidental, notadamente onde se desenvolveram os faustosos impérios medievais africanos (Gana, Mali, Songai etc.), recebe denominações variadas, dyéli ou diali, entre os Bambaras e Mandingas, guésséré entre os Saracolês, wambabé, entre os Peúles, aoulombé, entre os Tucolores , e guéwel, (do árabe qawwal) entre os Uolofes.

(Diáspora Africana - Ney Lopes)
2) Artistas
O Mali possui, provavelmente, uma das mais ricas e antigas tradições musicais do mundo. Uma história com mais de mil anos de existência.
É apenas no Séc. XIII que os músicos ganham um estatuto especial ao tocarem para o primeiro imperador do Mali, o rei caçador Soundjata Keita.
Desde há 700 anos até hoje, os músicos de etnia Mandinga - da qual faz parte o rei fundador Keita – tem cantado a história do país e das notáveis personalidades que o compõem. Estes músicos de apelido Kouyaté, Diabaté e Sissoko são considerados Griôts (artistas nascidos em berço musical com um destino profissional traçado no código genético: animar a corte com canções épicas e de louvor acerca de actos heroícos dos guerreiros e caçadores ancestrais).
2.1 - Salif Keita
Descendente do rei que fundou o maior império da África Ocidental até ao Século XV, Salif Keita tornou-se na década de 80 uma figura incontornável da música Africana e principal embaixador do Mali em França. O nobre Salif Keita notabilizou-se pela fusão entre a música tradicional da etnia Mandinga e a pop européia. O seu percurso artístico não foi fácil.
Ao nascer albino, Salif enfrentou a ira dos supersticiosos (ser albino no Mali, além de significar má sorte, pode ser causa de assassinato). Como se isso não bastasse, a família Keita não aprovou o facto de Salif ter-se tornado músico, pela simples razão de esta actividade estar confinada aos Griôts, também conhecidos por Jelis.
A música é uma profissão que se encontra hierarquicamente abaixo das actividades de professor e diplomata que Salif Keita teria necessariamente de abraçar.
Se na Europa Salif Keita é um símbolo maior do afro-pop, no Mali notabilizou-se por ser um dos primeiros a contrariar a organização social vigente mostrando que um músico no Mali não tem necessariamente de nascer em famílias Griôts.
2.2 - Sotigui Kouyaté
("Um contador de histórias, simplesmente" )
Sotigui surpreendeu na sua aula-espetáculo, domingo, no Teatro Carlos Gomes, aqueles que esperavam uma aula de Shakespeare (Bárbara lhe adora e não poupa elogios ao Prospero de A Tempestade) ou sobre o método de Brook, ou ainda da sua brilhante carreira como ator. No cinema trabalhou com Bertolucci, entre outros importantes diretores, tendo sido premiado em Cannes. É ainda diretor (dirigiu “Antígona” de Sofocles), cantor, compositor (fez trilhas sonoras de vários filmes), coreógrafo,cenógrafo e dramaturgo. Não bastasse isso tudo, trabalha com Peter Brook há mais de vinte anos atuando nas suas principais peças e filmes.

Durante quase duas horas sentado no palco do Carlos Gomes falou simplesmente das tradições africanas e da importância fundamental da civilização africana para o mundo hoje. Disse ele: "No Brasil, me sinto em casa, eu sou brasileiro, a cultura nos aproxima".

A sua explanação foi entremeada por dois vídeos: um deles sobre alguns trabalhos com Brook e o outro tratava-se de uma belíssima cerimônia religiosa de quando os mortos dos seus antepassados - os griôts Kouyaté - são lembrados e reverenciados. É uma cerimônia belíssima com cantos e dança e à medida que vão sendo mostrados ficam evidentes as similitudes culturais. No final, contou três contos de gênio.

SOTIGUI deu uma aula de simplicidade e de sabedoria. Simplesmente isso. E fiquei com duas frases que gravei na memória: “Cada dia descobrir o melhor de si mesmo no encontro com os outros” e a outra: “O mais difícil neste mundo é o conhecimento de si mesmo”.
3) Imaginário
a) "Lá nos sertões da África entre aldeias distantes circulam homens aprendendo e ensinando fatos históricos e culturais daquela região. Estes homens em Yoruba são conhecidos como Griôts. Quando os Griôts chegam nas aldeias, os pais afinam os tambores, as mães vestem as roupas mais bonitas e as crianças sentam na roda. E está aberto o ritual do Contador de Histórias".
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b) Os griôts ainda hoje funcionam como artistas, historiadores, contadores de histórias, artistas ambulantes, genealogistas e jornalistas. Eles vão de um lugar ao outro levando e trazendo notícias, contando histórias, cantando músicas. No passado, quando um griôt morria, a comunidade onde ocorria a morte abria o tronco de um baobá — como se sabe, uma árvore imensa - e ali dentro colocavam o corpo do griôt. (Ver mais informação em Thomas Hale “Griots and Griottes, Indiana University Press, 1998.) Talvez a comunidade quisesse, assim, preservar o fato de que o griot tinha tanta importância que deveria continuar” vivendo “ dentro do organismo vivo que é a árvore. Mas talvez, o que este costume revele é aquilo que cada um de nós sabemos: a morte nos fascina, nos amedronta e nos lembra, a cada momento, que ela existe e que faz parte da vida.
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c) “Uma viagem livresca no tempo permite perceber, ainda,que todos os aparatos tecnológicos assumidos pelo livro existem na era da informática”. Pensemos nos griôts: os guerreiros cantadores que viajam a pé de uma tribo a outra em algumas regiões da África ocidental, como bambara e malinke. O predomínio quase total da oralidade e a ausência de livros não impedem que as palavras caminhem no corpo dos guerreiros, dando permanência à cultura dessa gente. Tatuadas no aparato de escrita mais atrativo do mundo a própria pelo as palavras caminham e contam historias das tribos, genealogia, magia , ritos ; Exibem mapas geográficos de canções ideogramas com avisos de guerra , enquanto isso no continente ao lado a comunicação se da via satélite.”
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d) Na tatuagem secreta dos homens-leões e das mulheres -elefantes as antigas sabedorias dos povos africanos vêm sendo contadas de boca em boca por sucessivas gerações, ensinadas com lições de vida ou cantadas em praça pública pelos griôts (músicos e poetas da África ocidental que conservam e transmitem a memória). As histórias que constituem a literatura oral das diversas nações africanas, guardadas no imaginário dos homens e mulheres , percorrem as diferentes paisagens que formam o continente.
São histórias de caçadores e agricultores, bruxas e feiticeiros, reis e princesas, de heróis que atravessam a mata para cumprir seus destinos, de fundações míticas e de cidades. São também histórias de pequenas ou grandes disputas entre marido e mulher, histórias de amor , e, lendas de comunhão com os segredos da natureza e da terra.
“Contos e lendas da África” traz dezessete dessas histórias acompanhadas de um mapa e um glossário de palavras africanas.”